9/14/2005

Samba do Cadu na Caprichosos

Para quem conhece os sambas do Cadu (e eu posso dizer que os conheço como poucos), ver (ouvir) esse samba da Caprichosos é ao mesmo tempo bastante surpreendente e bastante previsível. De um lado é um desejo de se livrar de toda a pressão que ano a ano cai sobre seus ombros em mais uma disputa na Mangueira. De outro, uma falsa tentativa de mudar, enquanto no fundo no fundo não se sai do lugar. Uma ousadia tímida. Quem também já ouviu os seus sambas dos grupos de acesso (em que todo o cuidado com a artesania tão típica dos seus sambas vai pro espaço...) não vai se surpreender com o samba. Então ficamos com a impressão de uma espécie de meio-termo: um samba mais “pra cima”, com a cara da escola, e uma tentativa de fazer contornos mais melódicos e uma ou outra quebra. No fundo acaba revelando a tendência do compositor (que também se revela no samba da Ilha): o conservadorismo melódico. Ou seja, se por um lado o samba confirma os talentos do compositor com um caminho de continuidade, por outro a mudança não conseguiu fazer com que fosse superado nenhum dos limites de suas composições.

Nesse samba, as meias-pausas, de que o compositor tanto gosta, acabam (conscientemente, diga-se) travando o samba, que, por suas características, precisa ter um andamento diferente. O antepenúltimo verso, tanto da primeira quanto da segunda parte, seguram o samba, e dificultam a harmonia, enfraquecendo-o. Ou ainda o refrão do meio. Mas há bons momentos: na letra, uma tentativa de uma metalinguagem (“vou comer este refrão”), um jogo de palavras (“é bom bom provar”); na melodia, o lírico início da segunda parte, ou uma aceleração mais em seguida (“Marrom da cor do pecado”), na moda dos últimos sambas do André Diniz . Mas no todo, fica uma “sensação do mesmo”, porque se essa tentativa de sair da Mangueira e fazer um samba na Caprichosos representa um desejo de voar, Cadu o faz sem nunca tirar os pés do chão, sem nunca perder a obsessão pelo equilíbrio, pelo polimento. Com isso, faz um samba correto, e até bem acima da média do que vai ser visto na escola, mas que representa pouco em termos do que o compositor poderia oferecer.