10/10/2005

Salgueiro 2006

O Salgueiro vem chegando a uma encruzilhada que comprova a necessidade de uma mudança de rumos radical. Depois de três anos em que o samba de competição da pareceria do Leonel ganhou a disputa sem nenhuma contestação, a vitória do samba de Moisés Santiago e Waltinho Honorato em 2005 parecia trazer novos rumos para a escola. A nova parceria trouxe um samba mais cadenciado com maiores quebras melódicas mas no fundo trouxe o mesmo estilo dos antigos campeões. A mudança apenas confirmou o mesmo, e a sofrível safra de 2006 só comprova o completo esgotamento de um estilo de samba-enredo buscado pela escola.

O samba de Moisés Santiago e Waltinho Honorato segue a mesma linha melódica e rítmica do samba com que foram campeões no ano anterior. A chave do estilo de Moisés Santiago (o samba parece ter pouco do estilo dos sambas de Honorato para a Imperatriz) é o samba de versos curtos, e que facilite o canto. Com isso, favorece a harmonia, como se viu no desfile de 2005, mas comprova uma visão de samba-enredo um tanto superficial, baseado em respostas fáceis (o refrão final com “amar” e “sonhar”). O olhar pela melodia mais cadenciada e com meias-pausas não consegue esconder um samba calcado em frases de efeito que repete antigos bordões sem colocar no samba uma visão seja de letra ou de melodia que saia do lugar-comum.

Por outro lado, o estilo de “samba-trator” dos sempre campeões Leonel e companhia. Nesse ano, após a derrota em 2005, a parceria sofreu uma modificação, colocando dois parceiros (Tiãozinho e Abs) já tradicionais na escola, como se se buscasse um reforço de bastidores. Isso só aumenta a percepção de que nenhum deles compõe o samba, já que o samba é exatamente o mesmo de todos os anos em que a parceria de Leonel concorreu no Salgueiro. Aqui, apesar do estilo mais acelerado, há sem dúvida uma tentativa, comum da parceria, de inserir um vigor melódico (“há vida em volta”) mas dessa vez há uma dificuldade tanto de traduzir o enredo quanto de colocar de forma orgânica uma idéia de ritmo, tão cara à parceria. Com isso, fazem o samba mais mal construído dos últimos cinco anos da parceria. Sem conseguir se desvencilhar dos defeitos de sempre dos sambas anteriores (a falta de pausas, o “samba de encomenda”, etc.) ainda perde o apuro de letra e a poesia, típicos de seus trabalhos anteriores.

O samba de Líbero e João Conga tenta oferecer uma alternativa ao samba de embalo tipicamente salgueirense, mas o faz de uma forma um tanto primária para que possa atingir um melhor nível. O samba se equilibra exclusivamente nos dois refrões, que são meramente funcionais, mas que não chegam a acrescentar nenhum brilho particular. O refrão final (“o milagre da vida taí pra se ver”) é o melhor momento melódico do samba, embora falhe na letra. Todo o samba carece de uma sintonia entre ritmo, letra e melodia, que é o básico para qualquer samba acontecer. O miolo das duas partes é construído sem dar espaço para as pausas, trazendo várias dificuldades para a bateria e para a harmonia.

Por fim, o samba de Dudu Botelho e Guilherme Sá, “os meninos do Salgueiro”. Os “meninos” acabam sendo o grupo mais promissor do Salgueiro, mas o problema é que já está na hora de eles deixarem o rótulo de “promissores” e realmente acontecerem. Ou seja, falta que o estilo deles “desabroche”, para usar um termo contido no seu próprio samba. Indecisos entre criar uma identidade musical pessoal ou adotar o estilo de sempre da escola, esse samba, da mesma forma como os dos anos anteriores, é fruto de uma imensa dúvida, de uma dificuldade em se decidir o que se tem em mente. Com isso, torna-se extremamente irregular. Ao mesmo tempo em que tem um refrão final completamente previsível e um início da primeira parte bastante acelerado, tem partes memoráveis como o miolo da primeira parte (“Rumo ao encontro do mar / Nas profundezas (...)” e especialmente a segunda parte que, embora com poucos versos, traduz na melodia uma fuga do lugar comum tão típica das composições da vermelho-e-branco.