12/21/2011

samba Mangueira 2012

Os amigos devem saber que não sou uma pessoa que tenho um grande amor (apaixonado) pela Mangueira, tamanho é o fanatismo de sua torcida, mas é preciso dizer que há algo especial na Mangueira, que irradia. A nova administração do Ivo Meirelles tem a sua beleza, exatamente por saber valorizar essa energia que é “ser mangeirense”, identificar que essa é a essência da Mangueira.

Vemos acompanhando nos últimos anos a intensificação de um estilo de Carnaval em que o espetáculo visual tem primazia sobre o desfilar. Ou seja, o desfile das escolas de samba se tornou algo para SER VISTO e não para SER VIVIDO. Muito haveria para ser falado sobre isso, a transmissão da TV, o turismo internacional, os vícios da tal “profissionalização” das escolas, os critérios draconianos de julgamento, etc.

O que vem ao caso é que a administração do Ivo Meirelles tem sido um contraponto a isso. Não estou querendo endeusar o Ivo, até porque não sou ingênuo e sei de todas as contraindicações que sua eleição representa numa série de relações mais gerais entre a mídia, o morro e a socidade, mas o que simplesmente quero apontar aqui é que o Ivo – certo ou errado – resolve apostar tudo num olhar que ele acredita e em que ele aposta: e esse olhar é acima de tudo MANGUEIRENSE.

A administração anterior fez uma revolução na Mangueira. Recebeu a escola totalmente falida, e, com uma filosofia de profissionalização, transformou não só a escola mas a própria comunidade da Mangueira, resgatando sua credibilidade no cenário do Carnaval. Vejam a diferença hoje da Mangueira para o Império Serrano ou a Portela. Vimos a Mangueira com uma estrutura exemplar, invejável!

Mas o que vimos? Uma Mangueira como qualquer outra escola. Uma Mangueira luxuosa, talvez como nunca tenha vindo antes. O desfile do Maomé foi exemplar nisso. Carros acoplados, muito luxo, mas cadê a Mangueira?

Anos depois, já com o Ivo, vimos a Mangueira sendo cogitada para ser rebaixada, carros na madeira. Mas a comunidade do samba se juntou, os mangueirenses saíram da toca, superaram todas as dificuldades, e a Mangueira, mesmo com o regulamento draconiano, foi para o desfile das campeãs! Isso sim é a Mangueira! Com isso não estou querendo fazer apologia da miséria ou da desorganização, mas querendo apontar para o que é o Carnaval, o que representa ser mangueirense, e para as diferenças de filosofia entre as duas gestões.
2011 foi a coroação de uma nova filosofia de carnaval na Mangueira: ao contrário de um desfile para ser simplesmente visto, um desfile para ser cantado e sambado. Trunfo: o samba que poucos acreditavam, que não era sofisticado melodicamente, mas era mangueirense. E Mangueira é emoção!

* * *

Assim é o samba de 2012, com a pegada dos sambas do Lequinho, ao mesmo tempo mais simples e ao mesmo tempo com uma certa sofisticação melódica.

Tá lá o olhar do Ivo. O mesmo Ivo que foi campeão na Mangueira, com um samba simples, o de 1986, mas que se tornou antológico. Por que? Porque é um samba mangueirense. Não tem explicação!

O Ivo, que é mangueirense, sabe que só é possível implementar essa nova filosofia se houver um foco no samba-enredo. E que é preciso caminhar pra frente mas que não se pode deixar de olhar para trás. E olhar para trás no caso do samba-enredo da Mangueira é dialogar com a enorme tradição dos anos oitenta e início dos noventa com os sambas do Hélio Turco e Jurandir. Que justamente deixaram de ganhar as disputas com a chegada da nova diretoria.

A influência do Hélio Turco/Jurandir está toda lá no samba de 2011 e está toda aqui no de 2012. Mas ao mesmo tempo não é um samba do Hélio Turco, é um samba do Lequinho.

A síntese de todos esses movimentos (políticos, musicais...) está na brilhante segunda parte do samba. Brilhante mesmo! Com algumas falhas, mas o que importa? É um samba mangueirense. Um crescendo trabalhado com muita energia, com expressões simples que se repetem com pausas para o canto (comparem o papel do “sim” com o do “será” do famoso samba de 1988...). Até explodir num verso de enorme emoção ("Chora, chegou a hora eu não vou ligar"). Mais em seguida tem outro verso de grande impacto emocional (“Mangueira fez o meu sonho acontecer”), mas seguido de uma pausa bastante longa, bem atípica, que nunca entraria num samba do Hélio Turco (taí a pegada do Igor Leal/Lequinho). Ainda, não daria para o samba seguir com outro crescendo para explodir no final (como aconteceria com os sambas do Hélio Turco, por exemplo o de 1992, “se todos fossem iguais a você/que maravilha seria viver”, curiosamente o último samba da dupla). Daí os compositores de 2012 acharam um recurso muito bem encaixado, que encerra o samba com um espírito de humildade raro aos sambas mangueirenses: é preciso respeitar onde a Mangueira chegou, porque isso é raro, e precisa ser comemorado. Lindo final!!! Pra ser cantado e não assistido!!!

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

De emocionar, ainda mais vindo de um não mangueirense...
Abração,
Aloysio Felix

11:08 PM  
Anonymous Anônimo said...

Muito boa a análise. Parabéns Ikeda!
Marcelo Einicker

8:49 AM  
Anonymous Anônimo said...

muito boa análise de um crítico que admiro e respeito.
susana (suse) pietrangeli

1:21 PM  
Anonymous Caique Loureiro said...

brilhante... espero que os jurados neste ano entendam o que é a magia do samba, do carnaval... que é pra ser vivido como vc definiu. Ver a mangueira na sapucai é surreal, uma energia inexplicavel e contagiante, mesmo estando mais feia que as demais escolas, ela empolga e ecoa o grito de é campeã na sapucai... exatemente ai que a razão perde para emoção. Salve minha verde e rosa!
Caique Loureiro

2:58 PM  
Anonymous Aline Monteiro said...

São poucos os não mangueirenses que sabem reconhecer o que temos de bom!

E são pouco também os que foram capazes de compreender o que foi dito pelo nosso Presidente Ivo Meirelles qual utilizou a frase de Cartola: Mangueira por você fiz o que pude!
Eu prefiro dizer que nosso presidente estava errado a frase que deveria dizer é: Mangueira por você faço mais do que posso.

O nosso carnaval de 2011 não foi o melhor? Concordo plenamente, mas para a realidade que vivíamos era linda e garanto que todos, digo TODOS que gostam de samba se arrepiaram com as diversas paradinhas feitas e o os mangueirenses se emocionaram com os versos que nos mostrava o quando lutamos e amamos a nossa Mangueira !

5:41 PM  

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