4/14/2009

Dois Paulos

um texto antigo sobre a ascensão de Paulo Barros e seu antologico desfile de 2004...


Dois Paulos

Este Carnaval de 2004 foi marcado por duas visões, por dois Paulos. Suas semelhanças, suas diferenças, suas respectivas reações a um senso de oportunidade refletem não só o que é o Carnaval, mas nos dizem do que é feita a vida...

O primeiro Paulo, o Paulo Barros, lutou por um sonho. Há anos e anos nos grupos de acesso, finalmente teve a oportunidade de assumir o carnaval de uma escola do Grupo Especial. As condições, no entanto, não eram as melhores, mas tudo isso lhe pareceu secundário. Tudo o que lhe era desfavorável foi transformado em virtude, em fermento para o desabrochar de seu processo criativo. Seu enredo falava exatamente isso: da ligação íntima entre o sonho e o processo da criação. O enredo que aparentemente tinha uma abordagem "tecnicista" e descritiva teve uma leitura absolutamente íntima e metafísica. Não é a partir de uma fissura ou de uma oposição, mas exatamente através de uma conjunção, entre realidade e fantasia, entre o sonho intangível do artista visionário e a concreta rotina que envolve os afazeres diários do processo de criação, que Paulo Barros fez um exame sutil e contundente das falsas contradições que envolvem o Carnaval de hoje, ou ainda da necessidade de o Carnaval de hoje resgatar a possibilidade do sonho.

Enquanto o primeiro Paulo fez das dificuldades matéria-prima para seu Carnaval do sonho, o segundo Paulo, o Paulo Menezes o utilizou como subterfúgio, como sinal de impossibilidade. Muito havia de se esperar do Carnaval da Ilha deste ano, em que o tema da Atlântida representava toda uma busca por um carnaval autenticamente insulano, um resgate ao espírito típico da escola. Mas na verdade o mote "com dinheiro ou sem dinheiro eu também brinco", acabou servindo como uma "desculpa", ou como mero sinal de conformismo, para uma total falta de ousadia e de criatividade.