2/16/2009

sobre o Carnaval de 2003

Carnaval 2003

O Carnaval atual está chegando a uma espécie de encruzilhada. O Carnaval de 2003 foi um dos mais fracos dos últimos tempos, quiçá da história do Carnaval. Os sintomas são claros: as escolas parecem repetitivas, não animam nem os desfilantes nem os espectadores, tudo parece um pastiche de si mesmo. As causas e as possíveis soluções é que parecem nebulosas.

De concreto, parece o seguinte: as escolas de samba tornaram-se um espetáculo. Ou seja, são apresentações feitas para o deleite visual, para serem assistidas. A reação ideal do espectador é permanecer inerte, possivelmente boquiaberto com a “beleza” e a “graça” das fantasias, dos carros alegóricos e de itens como a comissão de frente, o mestre sala e a porta bandeira, etc. Outro ponto fundamental que modificou o Carnaval são os critérios de julgamento. O desfile técnico passa a ser o necessariamente frio, correto, ou meramente descritivo. A influência dos campeonatos da Imperatriz na década de 90 foi decisiva para os atuais rumos do Carnaval. Mesmo que nos dois últimos anos a escola tenha se esforçado ao máximo para NÃO ganhar o Carnaval, as demais escolas tentam assumir o posto vago deixado pela Imperatriz, para, pelo menos, retornar no sábado das campeãs. As escolas intermediárias, que poderiam buscar um carnaval mais inovador, ou tentam alcançar o “grupo das notáveis”, ou tentam se manter, aos trancos e barrancos, nessa posição, exatamente copiando o “estilo nobre” do grupo das notáveis. Por fim, há três ou quatro escolas que se esforçam para permanecer no grupo. Em suma, não existe possibilidade para o risco no Grupo Especial.

O estímulo à passividade do espectador, a predominância do tom descritivo escolhido pelos carnavalescos, e a imposição de um falso “tecnicismo” nos critérios de julgamento por parte da LIESA formam um tripé que levou o carnaval atual a uma encruzilhada. Talvez até uma crise, mas se o for, uma crise administrada. O Carnaval cada vez mais gera lucros, por isso, pela supremacia do econômico, passa-se uma idéia de que tudo vai bem. Mas quem acompanha o Carnaval cada vez mais se queixa das apresentações do Grupo Especial, cada vez mais confessa uma sensação de cansaço.

A crítica em 2002 foi a do patrocínio. Mesmo com enredos que não tratavam explicitamente de cidades ou de marcas (com a nítida exceção da Grande Rio), os enredos não se tornaram mais criativos, os sambas não se tornaram de melhor qualidade, a inércia do espectador permaneceu. Ou seja, a explicação para o marasmo é outra, de fonte bem mais complexa.